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É interessante pensar que a grande maioria dos professores de um curso superior no Instituto de Artes é também artista, o que possibilita, na prática curricular, a pluralização de experiências da construção cultural individual e social. Institui-se assim criadores, e não meros repetidores, que pensam e se questionam sobre o profissional em processo de formação e o profissional já formado como ser que também quer estar preparado para os enfrentar o mercado de trabalho.
A experiência artística é construída na diversidade de processos que constituem a arte na contemporaneidade. A reflexão sobre o fenômeno artístico é contextualizada na interlocução da história da arte, da prática artística contemporânea, da atualização do discurso estético, e da atualização dos processos educativos no ensino da arte. Recentemente o Instituto de Artes teve reformulações no currículo de Artes Plásticas e com o objetivo de formar o artista visual e o professor de artes visuais os habilita para a pesquisa, para a produção, para o ensino e para o desenvolvimento de projetos educativos e culturais. Utopicamente, no papel do estatuto da Universidade, isso está bem colocado, no entanto, é preciso preparar as pessoas para ingressar num mercado que mudou, não existe o emprego tradicional, a simples competição através do banal currículo que não resolve mais nada. A preparação que a pessoa deve ter adquirido na sua vida acadêmica, a universidade pode e deve interferir neste sentido, é algo parecido com a universidade em seu início, preparar pessoas completas para que elas tenham condições de interferir no mundo e possam sobreviver. É precário um direcionamento no que diz respeito a um preparo e ingresso no mercado de trabalho, tal como noções para elaborar um simples portifólio. É verdade que o interesse maior é do aluno e que a arte não se mercantiliza banalmente; é preciso vincular ensino e cultura, pesquisa e cultura de modo que cultura não se restrinja a ações isoladas e mercantis, mas também que dê possibilidade ao aluno de imergir e sobreviver. Não vamos ser hipócritas dizendo que as pessoas não querem ter um lugar no mundo do trabalho.
O desenvolvimento do trabalho é o aluno quem o faz, mas é importante a universidade e os professores, através dos meios que a instituição possibilita, como reformas de currículo, criem disciplinas que habilitem os alunos a se preparem para salões, e concursos da área, assim como a trabalharem com produção cultural e outros meios.
No entanto, não existem profissionais especializados e formados numa área como a de produção cultural de políticas culturais; os poucos que sabem administrar isso, sabem por imposição, porque essa, afinal, não é a profissão básica de nenhum artista. Em uma reforma universitária deve-se levar em conta a capacidade de pensar, de investir no ensino de alunos com sólida formação cultural para que sejam bons e competentes profissionais, capazes de observar o que está além do imediato e de localizar boas perspectivas.
0bservo uma falta de interesse nesse sentido com relação ao aluno; falta, dessa forma, dar viabilidade à produção jovem e captar aqueles alunos com potencial para determinadas questões a desenvolver, falta dar a formação e a informação como um reflexo. Falta potencializar o aluno para a prática fora da universidade, pois muitos saem do Instituto de Artes armados, é verdade, com todo o potencial de ensino das linguagens visuais da percepção, reflexão, produção, formação crítica – na qual se requer o potencial criativo alinhado ao conhecimento técnico –, o que falta é uma disciplina para uma visão do mundo relacionada ao trabalho como ganho real, relacionada à necessidade de sustentar-se. É verdade que na universidade existem as bolsas e tudo mais, mas como obtê-las, como elaborar um plano de trabalho? O projeto de graduação é, em última instância, algo que se deve dominar, mas que muitos alunos padecem ao fazer pois possuem uma base muito leve do que realmente se deve saber para prepará-lo. Após a formação muitos não se desvinculam do curso por medo de não ter meios de se sustentar, não se pode ficar na utopia de fazer arte por arte, ou será sempre assim: muitos alunos indo para a licenciatura para obter algum ganho mais concreto como professores de Educação Artística, outro mercado deficiente, se pensarmos que arte lembra aquela disciplina desinteressante dos currículos escolares, na qual se cortavam bandeirinhas de São João e se faziam cartões para o dia dos pais ou das mães, na qual não se pensava, nem se aprendia nada sobre arte efetivamente e que era, muitas vezes, ministrada por professor com outra formação.
O aluno de licenciatura ou o profissional de Educação Artística tem seu mercado, e é preparado para isto. Ao mesmo tempo, existem escolas carentes necessitando de seus ensinamentos e questionamentos. Como pensarmos nos bacharéis que querem atuar como artistas e não como professores? Deveríamos todos, já bacharéis, procurarmos a licenciatura? Podemos pensar em outros meios como a publicidade, que não é mau, trabalhos de direção de arte ou trabalhos em programação visual de sites e os vários meios de comunicação, ou, na pior das hipóteses, como muitos julgam, se deixando corromper pelo trabalho em áreas completamente oposta, tentando fazer arte nos momentos que restam.
Existe mercado para o artista visual? Existe. O que ocorre é que praticamente nenhum aluno sai preparado para esse mercado efetivamente, a não ser o aluno de licenciatura. No entanto, o aluno bacharel permanece na universidade por mais tempo ou acaba por fazer a licenciatura e os que saem penam para encontrar o desejado mercado para expor sua arte.
Atualmente é preciso ser muito heróico para continuar produzindo, o que vem ocorrendo é que os artistas formam grupos e vão atuar da sua maneira, mas acabam tendo um público restrito, ficam fechados a pequenos círculos. O artista procura formas de sobrevivência para ter uma vitalidade própria e não ser tão dependente do sistema convencional.
Há instituições investindo em projetos que dão visibilidade à produção jovem, que iniciam o trabalho e podem a qualquer momento estar com o trabalho circulando, conectado com todo o Brasil. Hoje existe um intercâmbio entre os locais, de região para região, sem que se necessite de intermédio dos centros maiores, no entanto, precisamos estar preparados para concorrer, como em qualquer outra profissão, e a universidade pode e deve se impor na ajuda para com os alunos através da criação de outras disciplinas.
Vivemos na contemporaneidade, o mundo da informação mais e mais globalizada, a tradição que supervaloriza o novo, uma estética ocidental que é produto de uma elite intelectual artística que questiono porque não atende às demandas da sociedade pós-moderna.
Está no estatuto da universidade desenvolver atividades de ensino e pesquisa e extensão, e fazer com que o conhecimento avance, em suma, preservar valores da cultura, e este espaço não pode ser a única coisa da vida, pois ela tem de ser inserida num projeto maior, aí o debate se complica, considerando que não temos um projeto para o Brasil, quanto mais para as universidades públicas.
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