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Aproxima-se a Bienal do Mercosul e parecemos ser tomados novamente por seus pontos de interrogação. Eles resumem o seu famoso slogan: a arte não responde, pergunta. Considerando a reinterpretação do slogan pelo curador da 2ª e 3ª Bienal do Mercosul, Fábio Magalhães, em sua fala no encontro de formação de mediadores para a 6ª edição: a arte responde, sim, através de novas perguntas; preferi através deste texto elencar alguns questionamentos que surgem diante da aproximação do evento. Esses questionamentos não são meus, são do local e do momento, das pessoas que dele participam: artistas, estudantes. Elas participam? Ao mesmo tempo em que não cabe a mim a resposta a estas perguntas, respondo através de novas perguntas.
Desenvolvo assim: qual a importância de uma bienal regional como a do Mercosul? Conferir “auto-estima” à arte sul/latino-americana ou apenas dar “visibilidade” a ela?1 Embora pareçam ser a mesma pergunta ou uma a conseqüência da outra: o que significa a internacionalização da Bienal do Mercosul, defendida no projeto de sua 6ª edição?
Tornar a mostra uma referência importante no contexto artístico mundial, atraindo um número maior de público especializado? Alcançar seu objetivo primeiro? Isso envolveria internacionalizar o seu conteúdo, abrindo um leque de obras e artistas pertencentes a nacionalidades diversas? Ainda assim, seria esta uma Bienal do Mercosul? O caminho encontrado pela curadoria desta 6ª edição parece estar delimitado na seguinte pergunta: “como relacionar o regional ou local com o internacional?”2
Sendo assim, que relações a 6ª Bienal do Mercosul estabelece para com o local onde se realiza, ainda que dela não participe nenhum artista gaúcho? Não seria este último questionamento um questionamento bairrista, a reivindicação de artistas locais (gaúchos e porto-alegrenses) de sua participação na mostra? Por onde começaria a participação destes artistas na mostra? O que seria sua participação? A articulação de uma Bienal B?
A Bienal B3 é uma pergunta ou uma resposta? Se fosse uma pergunta, qual seria? Quais seriam? Existe um mercado de arte em Porto Alegre que dê lugar à produção artística contemporânea? Existe consumidor/público de arte na cidade? Existe uma efetiva articulação dos artistas locais para que isso exista? Existe um ensino de arte que prepare seus alunos-artistas para um mercado? Que mercado é esse para além do contexto local? O que ele exige de nós e o que nós exigimos dele? Da adversidade vivemos?4
De que forma tornam-se eficientes as tais políticas públicas de incentivo à difusão, circulação e produção artística, pensada ainda no contexto local? Como competir na obtenção de recursos, totalmente catalisada pelas grandes instituições, quando não contemplados por elas? O problema está na qualidade da produção local ou na falta de investimento ou acesso aos recursos para tal? Este problema é um problema restrito ao local?
Qual é o lado B desta história? Quem escreve esta história? Guimarães Rosa por Gabriel Perez-Barreiro propondo uma terceira margem? Bienal do Mercosul por Bienal B? O que existe ou surge entre as duas margens? Se o momento é de reflexão, o que acontece entre uma e outra Bienal? É preciso a aproximação do evento, para que os artistas locais se dêem conta da sua realidade, repensem e reivindiquem sua atuação no cenário artístico local? Assim reitero meu próprio texto, sem respostas, minhas desculpas!
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Referência
1 Os termos utilizados na questão fazem referência ao texto de Gaudêncio Fidelis, Perspectiva Crítica II: notas sobre a importância histórica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de uma “auto-estima” para a arte latino-americana. Este texto integra o livro Uma história concisa da Bienal do Mercosul, do mesmo autor, editado pela Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em 2005. 2 PEREZ-BARREIRO, Gabriel. Propuesta Curatorial para la 6ª Bienal del Mercosur: Terceira Margem do Rio. Porto Alegre: Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 2007. 3 Trata-se de uma mostra organizada por artistas locais que ocorrerá paralelamente à 6ª Bienal do Mercosul. Estão inscritos mais de 300 artistas, em sua maioria gaúchos e porto-alegrenses.
4 Título de texto, de Fernando Cocchiarale, publicado no livro Crítica de Arte no Brasil: Temáticas Contemporâneas, organizado por Glória Ferreira (FUNARTE, 2006,) é uma citação de Hélio Oiticica no texto Esquema Geral da Nova Objetividade, publicado no catálogo da mostra Nova Objetividade Brasileira, Rio de Janeiro, 1967.
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