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Sou daqueles que ainda acredita em algum tipo de projeto coletivo para melhorar nossa vida social. Ingenuidade? Utopia? Não sei, mas, de repente, essas dúvidas devam existir para completar dialeticamente nossa construção... Dentro dessa lógica, um dos principais instrumentos que acredito ser o meio para se chegar até este “mundo melhor” é a educação. Já se vão dez anos de magistério e algumas experiências ao longo dessa jornada me indicaram que não apenas a educação, mas a arte-educação é um ponto fundamental.
A educação é a base para a formação de um indivíduo livre, auto-gestor, autônomo o suficiente para poder ensinar ao outro esta autonomia, e é aí que volta a educação. No sentido que for, a educação deve ser o principal objetivo para um mundo mais equilibrado e justo, seja pelo ensino de química, física, ensino de línguas, história, geografia, literatura, biologia ou de artes. Qualquer um destes componentes curriculares possui na sua natureza o potencial de tornar o ser autônomo, não há disciplina melhor que a outra pelo simples fato de que todas são conhecimento e o conhecimento é um só. Entretanto, no que diz respeito à arte, a via educacional que tem por base a arte-educação está passando por um processo de transição na atualidade que pode ser colocado como paralelo à transição que a pós-modernidade traz à arte contemporânea. O que é muito bom levantar, ainda mais em épocas de Bienal, Bienal B.
A crise educacional pela qual passamos nada mais é do que uma crise de estrutura de nossa sociedade. É a crise da falta de valorização das conquistas do passado, do ser vazio no presente, da falta de perspectiva no futuro. Pois que há melhor do que a arte para, dentro do quadro educacional, desde a base da infância, trazer aquilo de bom que o passado possui, fazer o ser ver o presente como um tempo e um espaço importantes, sim, e oferecer uma boa perspectiva para o futuro? Arte seja no aspecto que for: a arte visual, o teatro, ou jogo dramático e a música. Não considero ideal uma escola que não tenha ensino de arte, que não tenha um espaço para cada uma dessas três manifestações, ao menos um atelier, por pior que seja, um tablado, uma sala de música com instrumentos e professores.
Qual seria o objetivo da arte? Qual seria o objetivo da educação? Qual seria o objetivo da arte-educação? Desde que o suíço Cizek colocou as crianças a observá-lo e lhes deu pincéis para que fizessem “o que queriam”, relacionei a forma e as estruturas sociais com a prática educacional que se desenvolve por aí. Se quero uma sociedade melhor, quero um indivíduo sensível, que tenha a oportunidade de aprender a conviver com outros, cada um dentro de suas especificidades e individualidades. Seres musicais, expressivos, com graça, e que tenham o que dizer, que tenham condições de dizer para o mundo que eles existem, que são seres que devem ser respeitados e que respeitarão aos outros. Isso a arte-educação pode fazer.
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