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já faz algum tempo que falamos em arte conceitual e arte contemporânea, muitos são os que apreciam e a maioria não entende e não gosta. E o que dizer do consumo, há compradores para tal gênero de arte?
Fazendo-se uma pesquisa sobre esse assunto vemos que sim, em algumas regiões do país, principalmente entre os eixos Rio e São Paulo. A revista Época de março de 2003 nº 252, do dia 17/03, apontava diversos compradores de arte contemporânea e seu perfil, como no caso do Sr. José Olympio Pereira que é dono de uma das melhores coleções de contemporâneos. Começou sua coleção arriscando-se a comprar obras do baiano Marepe, um artista que segue uma linha remanescente da arte povera. Segundo o comentário transcrito na revista Época este colecionador explica:
‘Comprar Di Cavalcanti, Tarsila ou Guignard é de bom gosto, mas exige pouco risco', argumenta Olympio, marido de Andrea Pereira, coordenadora do Núcleo de Arte Contemporânea do MAM de São Paulo. Formada há três anos, a associação reúne mais de 100 entusiastas, entre veteranos e neófitos, promovendo visitas a ateliês, debates e viagens às principais mostras internacionais. 'Queremos incentivar a criação de coleções e mostrar que o mercado é acessível a todos', diz Andrea.
A revista ainda aponta que o perfil dos compradores inclui muitos professores, publicitários, advogados e executivos da área financeira que estão construindo um patrimônio em arte que antes do sucesso dos artistas tinha um preço reduzido e que após passou a ter um rendimento maior que qualquer outra aplicação financeira. Estes compradores, porém, são freqüentadores de galerias, estão constantemente sintonizados com o mercado e são pessoas maduras, na faixa dos seus 40 ou 50 anos.
Mas, o que dizer no caso do estado do Rio Grande do Sul? Existe colecionadores com este perfil? Para isso vejamos a opinião do prof. Paulo Gomes, doutor e crítico de arte:
Quem são os consumidores?
“Principalmente a própria classe artística, os colegas, que tem se revelado excepcionais colecionadores. Há um público, bastante restrito, de colecionadores persistentes, por simples amor a arte, um grupo mais restrito ainda de investidores e eventuais compradores (para presente, decoração etc.)”.
O que podemos dizer do mercado de arte contemporânea em nosso estado?
“O mercado de arte contemporânea vende principalmente a produção visível nas galerias e eventos, isto é, não há comercialização efetiva, somente trocas entre artistas e consumidores, sem efetivação de negócios. Pouco se vende de arte contemporânea entre nós”.
A educação poderia favorecer um aquecimento deste mercado? Se for possível, como?
“Acho que sim. Mas esse processo teria que ser iniciado o quanto antes, pois os resultados só iriam surgir dentro de 15 ou 20 anos. A educação para o consumo em largo espectro, isto é, não só ir às exposições, mas comprar o produto exposto, não vai ter muitos resultados positivos junto aos atuais poucos consumidores de arte. O gosto está arraigado dentro de um espectro muito restrito: pinturas (geralmente com caráter fortemente decorativo), eventuais gravuras e esculturas para jardins. Quanto aos trabalhos menos ortodoxos (instalações, vídeos, performances, obras que fogem dos suportes tradicionais) estas não vendem mesmo, quando muito são admitidas e consumidas nos próprios locais de exposição”.
Conclusão: há uma enorme falta de informação e um preconceito arraigado. Embora haja uma tendência em apreciar a arte como no passado, não podemos negar que hoje há outros meios e que há pontos muito interessantes na arte contemporânea que devemos considerar. Estudantes de arte e futuros educadores devem ser abertos para esses novos conhecimentos e devem poder instigar nas pessoas ou em seus alunos a apreciação pela arte, seja renascentista, moderna ou contemporânea. A arte contemporânea é a que ficará para a história como um registro dos nossos dias, pois quem faz o que outros já fizeram não inova, apenas repete. Assim como foram criticados os revolucionários no passado, muitos ainda criticam os de hoje, sem dar a oportunidade a si próprios de experimentar.
É necessária uma mudança antes na mentalidade de quem vai lecionar para em longo prazo haver uma mudança no gosto. Como isso se dará e quando? Isso só o tempo irá nos dizer.
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