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Tendo em vista que brevemente muitos de nós estaremos concluindo o curso de Artes Visuais, quem não se perguntou como será sua vida egressa da universidade, já que é uma formação discriminada por muitos ainda nos dias de hoje, e que realmente não vemos grandes possibilidades de sobrevivermos apenas de arte?
Sabemos que não é a forma almejada pelos alunos fazer obras decorativas, ou comerciais, porém, em muitos casos, é o que acaba acontecendo, e temos exemplos muito próximos de nós.
Resolvemos ir às ruas conversar com alguém que constantemente está nesta batalha, para obtermos a sua opinião.
Conversamos, então, com o Sr. Ailton Gomes, de 55 anos de idade, carioca que está neste mercado há 37 anos, parte desse período no Rio de Janeiro e outra parte aqui no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Porto Alegre.
Gostaríamos de saber como surgiu seu interesse pela arte? Possui alguma formação? Qual?
R.: Eu nasci e morei muito tempo no Rio de Janeiro, que é um dos centros culturais do nosso país, onde existem muitas galerias, lojas, museus.
Eu visitava os museus e gostava de desenhar e pintar, então comecei a trabalhar com a arte e ganhava bem com ela.
Eu fiz seis anos de Belas Artes no Rio de Janeiro, de desenho visual, onde me formei, depois comecei a pintar e até hoje faço isso.
É um freqüentador de museus? O que acha da arte que está nos museus? Tem uma opinião sobre isso? E a arte contemporânea, a Bienal?
R.: Faz muito tempo que não vou a um museu, no Rio de Janeiro eu ia muito porque é um lugar mais cultural que aqui, a gente vê quadros do Vitor Meireles, Di Cavalcanti, as lojas no Rio de Janeiro têm quadros desses artistas, tem muita galeria de arte, feiras... Mas aqui eu não vou.
Arte contemporânea...
Não considero isso artes plásticas, a Bienal, por exemplo, não tem um artista gaúcho. Eu gosto da arte que tem nas galerias, mas aqui não tem galerias pra olhar, as lojas de molduras estão falidas, é muito difícil essa vida de artista aqui no sul.
Já realizou algum salão? Participou de alguma exposição?
R.: Já participei sim, no Rio de Janeiro, mas hoje em dia eu prefiro trabalhar na rua, diretamente com o público.
Como está o mercado das artes, especialmente a pintura que é o seu caso?
R.: Já foi muito bom, eu trabalho com arte há 37 anos, vim do Rio de Janeiro para Porto Alegre há 13 anos, mas hoje em dia está muito difícil, as vendas caíram muito quando o atual governo assumiu o poder, eu vendia bastante quadros, vivia bem, dava pra viver da venda dos quadros, viajar para o Rio de Janeiro e voltar várias vezes por ano.
Seus trabalhos estão em algum outro lugar, além daqui da Praça da Alfândega?
R.: Trabalho aqui na Praça da Alfândega de segunda a sexta-feira e aos domingos na Redenção.
Onde o resultado é mais satisfatório?
R.: Varia muito, às vezes aqui às vezes lá.
Como está o interesse das pessoas pela arte?
R.: As pessoas demonstram interesse, mas não tem dinheiro para comprar. Antigamente eu tinha até encomendas, muitas encomendas, mas faz anos que elas sumiram.
Como deve estar atualmente no Rio de Janeiro?
R.: Infelizmente, faz dez anos que não consigo ir ao Rio, por isso não posso dar esta informação, agora não tenho dinheiro nem pra ir ao Rio de Janeiro.
Possui algum outro trabalho? Faz algo além de arte?
R.: Não, vivo de arte. Minha esposa é professora aposentada e eu tenho um filho que trabalha, mas eu só consigo viver da arte porque eu não preciso pagar aluguel. Se eu tivesse que pagar aluguel, com certeza estaria embaixo da ponte ou teria que fazer outra coisa para sobreviver.
Como vê a sua arte? E qual a técnica utilizada?
R.: Eu gosto, sempre gostei de pintar marinhas, pinto abstrato também, mas minha pintura é totalmente comercial, eu tenho o meu estilo próprio, uma pessoa que conhece meu trabalho vê um quadro meu e logo identifica meu trabalho.
Uso tinta acrílica, eu comecei fazendo retratos, mas retrato dá muito trabalho e pouco dinheiro. Eu vou produzindo, se querem um abstrato eu faço, se querem outra coisa também, mas a situação não está fácil. Vou dar um exemplo, eu moro aqui há muitos anos e nesta época do ano, dia das mães, todas as pessoas que passavam por aqui compravam um quadrinho para suas mães, vocês estão falando comigo há quinze minutos e ninguém veio perguntar nem o preço, as vendas caíram muito.
Inspira-se em algum artista?
R.: Eu tenho uma chácara que comprei com o dinheiro dos quadros e é isso que me inspira, gostar da arte é muito bom, difícil é viver dela. Fazer um trabalho para agradar outro, não é fácil, cada pessoa gosta de uma coisa, é como na música, cada um gosta de um estilo, então é difícil agradar as outras pessoas. Eu gosto muito da pintura expressionista, pintura forte, cores fortes...
Tem algum artista famoso que admira?
R.: Di Cavalcanti, na minha opinião, é o melhor, lá no Rio de Janeiro a gente vê pelas galerias, Cavalcanti, Portinari... E aqui não é um lugar cultural.
Tem algum artista famoso que admira?
R.: Di Cavalcanti, na minha opinião, é o melhor, lá no Rio de Janeiro a gente vê pelas galerias, Cavalcanti, Portinari... E aqui não é um lugar cultural.
E qual é a sua perspectiva com relação às artes?
R.: A tendência, pelo que eu estou vendo é que as coisas piorem.
Aqui, como é um país de terceiro mundo, o pessoal é muito ignorante, pouca cultura, o governo não investe na cultura, não divulga nada, tem outras prioridades. Eu nunca imaginei ver o Rio Grande do Sul do jeito que está, essa pobreza, essa miséria, a quantidade de mendigos, violência... Antigamente eu tinha até um menino que trabalhava pra mim, ganhava 10% de tudo que eu vendia, hoje não tenho condições.
Quando as pessoas vêm aqui e perguntam os preços, elas acham caro?
R.: Acham caro, sim, eu estou há doze anos neste mesmo lugar sem aumentar um centavo o preço dos quadros, eu sobrevivo, mas aconselho vocês que são jovens ainda a largarem a arte, porque no nosso país ser artista seja músico ou pintor é muito complicado.
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