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A Revista Oficina surge, em seu primeiro e muito provavelmente único número, a princípio, como resultado de um trabalho solicitado na disciplina de História da Arte no Brasil II, do Departamento de Artes Visuais da UFRGS, durante o primeiro semestre de 2007. Digo “a princípio” porque a mobilização dos alunos em torno do projeto foi bem maior do que a necessária para simplesmente obter a desejada nota. Contrariando a noção comum (mesmo e, talvez, sobretudo no meio artístico) de que artistas não sabem e/ou não devem escrever, o que encontramos na revista são, muitas vezes, contribuições maduras, consistentes e originais ao pensamento sobre arte, sempre em aberto, sempre em transformação. Os colaboradores da revista discutiram entre si as linhas gerais a serem seguidas pelos artigos, foram às ruas realizar entrevistas, revisaram textos, debruçaram-se sobre a programação visual do conjunto. Assim, quebraram também outro mito romântico que ainda circula no pequeno mundo das artes, o de que artistas são altamente individualistas e incapazes de trabalhar em grandes grupos como esse, com mais de vinte pessoas.
Os textos publicados na revista, é importante ressaltar, abrangem os mais variados aspectos do sistema das artes: as instituições, com a apresentação do Museu Iberê Camargo elaborada por Álvaro e Eduardo, e com o texto sobre as Pinacotecas Municipais de Filipe; as bienais, como a Bienal do Mercosul e a Bienal B, através dos textos de Ana Ligia e de Luiz Roque; a formação do público em um contexto pós-moderno e multicultural, com os respectivos textos de Ana Carolina, Ana Maria Bettini, André Luís e Soraya; a formação e o posicionamento do artista, com as contribuições de Gaby Benedyct, de Rafael e de Lisiane; a relação da arte com a sensorialidade, através do texto de Marcio Luiz, com o meio ambiente, no texto de Rodrigo Lourenço, com o conceito onipresente de crise, dissecado no artigo de Rodrigo Urriart, e com a internet, na colaboração de Sandra; o pensamento dos artistas que freqüentam distintos circuitos artísticos, com as entrevistas realizadas por Ana Maria Souza e Giana e por Sonia, a visão que outros alunos da UFRGS têm do Instituto de Artes, com as pequenas entrevistas apresentadas por Marilene Bordin, e, finalmente, as publicações de arte, com a resenha de Andréa sobre livro de Raul Garcez.
Não há formação de pensamento crítico sem leitura, sem comparação de diversas linhas argumentativas, sem conhecimento das idéias de nossos pares. A crítica, mais do que atividade individual, é tarefa coletiva, logo, apenas coletivamente ganha sentido, força e direção. Que o pensamento crítico esboçado na modesta proposta dessa revista auxilie a fortalecer a atividade crítica em nosso meio, ainda em aberto, ainda em formação. |